Rosângela Kittel | UDESC | Professora da Educação Básica

                                                                                                                           Rosângela Kittel | UDESC
                                       Projeto em rede: Escolarização de alunos com Deficiência Intelectual: Políticas Públicas, Processos Cognitivos e Avaliação da Aprendizagem

 

A qual pesquisa você está vinculado(a) e o que é desenvolvida nela?

Iniciei em 2012, como pesquisadora da Educação Básica vinculada ao Observatório de Educação “Escolarização de alunos com Deficiência Intelectual: Políticas Públicas, Processos Cognitivos e Avaliação da Aprendizagem”. Pesquisa financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior/ CAPES, no âmbito do Programa Observatório da Educação/Obeduc.

Desenvolvemos uma pesquisa que é configurada por uma rede, entre a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ, Universidade do Estado de Santa Catarina/UDESC e Universidade do Vale do Itajaí/Univali. Coordenada pelas professoras doutoras Márcia Denise Pletsch, Geovana Mendonça Lunardi Mendes e Regina Celia Linhares Hostins, respectivamente. Isto oportuniza uma mobilidade entre Universidades e diferentes realidades. As pesquisas são desenvolvidas nestes três lócus e reside aí a riqueza do processo.

Em meados de 2014 continuei no grupo, mas agora como pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Santa Catarina/UDESC, como mestranda. Concluo no final deste ano, 2016 e em 2017 retorno ao grupo como pesquisadora colaboradora da Educação Básica.

Esse foi seu primeiro envolvimento com pesquisa? Já tinha interesse anteriormente em desenvolver algo como isso?

Sim, foi meu primeiro envolvimento. Participei, voluntariamente, de um grupo focal que tinha como objetivo coletar dados para uma pesquisa em âmbito nacional. Nesta ocasião conheci a Prof. Geovana, que coordenava esse trabalho. Ao término dos trabalhos, que duraram cerca de dois meses, ela me convidou a participar do grupo de pesquisas acima referido.

Como foi o trabalho na prática? O que foi mais estimulante e também mais difícil?

Foi fantástico, pois esse movimento de reflexão – ação – reflexão, acerca dos conteúdos que compõem a prática docente, no caso a prática pedagógica da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, é em essência o que promove a verdadeira formação docente. Isso estimula uma postura crítico-reflexiva e oferece meios para o desenvolvimento de um pensamento autônomo e uma ação profissional mais consciente. O grupo é composto por professores da Educação Básica, graduandos e pós-graduandos da educação, então é possível colocar sob análise todos elementos que compõem esse cenário chamado escola, isso é o mais estimulante. O diálogo com a academia, o entendimento da prática à luz das teorias, é o fantástico.

Muitas coisas foram difíceis, por exemplo, transpor as barreiras da cultura acadêmica, no meu caso que fui da escola para a academia depois de 25 anos. Há crenças, costumes, ideias, muito específicas na academia, que são da academia e assim a caracterizam...da mesma forma que há a cultura escolar, a gramática escolar, há a cultura da academia. São, ainda, dois universos paralelos, que co-existem, e só iniciativas como estas, de pesquisa e extensão, é que constroem pontes de comunicação. A academia continua formando professores para uma escola que não existe. Eu diria mesmo, que a academia forma excelentes pesquisadores e entre eles, apesar da academia, há bons professores.

António Nóvoa escreveu em seu livro “Professores: imagens do futuro presente”, o que denominou insulto à Bernard Shaw, acrescentando-lhe duas máximas (2009, p.15):
Quem sabe, faz.
Quem não sabe, ensina.
Quem não sabe ensinar, forma professores.
Quem não sabe formar professores, faz investigação educacional.

Nóvoa se arriscou ao declarar e escrever isto, em um gesto corajoso, para chamar a atenção ao esvaziamento da formação docente, com professores universitários sem qualquer ligação à profissão e ao exercício docente. Deslegitimam os professores de uma intervenção no seu próprio campo profissional, reduzindo-os a espectadores na formação docente e a sujeitos de pesquisa na investigação educacional.

O mais difícil foi ver isso acontecer, ainda, na universidade. O mais difícil foi ouvir graduandos e pós-graduandos dizerem que não gostam de crianças, de alunos, do barulho e do cheiro da escola, e que por isso vão se dedicar a carreira acadêmica.

Você considera que o meio de trabalho no qual está inserido(a) estimula a prática de pesquisa? Caso não, quais são os maiores desafios?

Atuo como Professora da Educação Especial em uma Escola da Educação Básica que tem como missão ser referência municipal e reconhecida por práticas inovadoras e entre suas ações está a parceria Universidade x Escola. Então, sim, o meio no qual estou inserida apoio a prática da pesquisa, mas ainda não oportuniza, não estimula. ainda não sabemos como fazer isso, não é da cultura escolar essa prática da pesquisa. O Decreto nº 6.755/2009, que institui a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica inaugurou uma nova forma de fazer formação, ao indicar entre seus princípios o reconhecimento da escola e demais instituições de educação básica como espaços necessários à formação inicial dos profissionais do magistério. Temos aí um excelente texto legal que aos poucos vai sendo traduzido em práticas. Sabemos que não se muda cultura com decretos, mas a legislação é a única forma de romper com velhos paradigmas. O desafio? Ter paciência.

Qual a importância de estar envolvido numa pesquisa? A partir desse trabalho que integrou, no que a pesquisa pode contribuir para a melhoria da escola e para o entendimento do que se passa no dia a dia de professores, estudantes e funcionários?

Creio que a importância do envolvimento na pesquisa reside na possibilidade de:
1 -  criar o diálogo e a convivência entre academia x escola;
2 -  significar a prática à luz das teorias;
3 -  dar visibilidade ao fazer docente por meio de publicações e participação em eventos acadêmicos;
4 -  contribuir para formação inicial dos futuros professores que aprendem a profissão na profissão e com quem exerce a profissão.
5 -  atribuir credibilidade ao trabalho docente.

Essa aproximação enriquece e favorece tanto a academia quanto a escola, que longe de disputar territórios deve estabelecer parcerias de entreajuda e cooperação, pois buscamos alcançar o mesmo objetivo: o movimento do pensamento pelo conhecimento.