Hamilton Pernick Vieira | UECE | Professor da Educação Básica

                                                                                                                         Hamilton Perninck Vieira | UECE
                                                                                     Projeto em Rede: Desenvolvimento Profissional Docente e Inovação Pedagógica

 

A qual pesquisa você está vinculado(a) e o que é desenvolvida nela?

Hoje estou vinculado a uma pesquisa-guarda chuva no contexto do Observatório da Educação da Universidade Estadual do Ceará (UECE/OBEDUC) chamada Desenvolvimento Profissional Docente e Inovação Pedagógica: um estudo exploratório das contribuições do PIBID. Nesta investigação, já desenvolvi dois artigos científicos, dos quais, um foi apresentado no EPPEN, e minha dissertação de mestrado em educação que tratou da docência universitária a partir de coordenadores do PIBID-UECE à luz de Paulo Freire. Hoje, no doutorado em educação. Faço parte da linha de pesquisa Didática, Saberes e Práticas pedagógicas, do núcleo de estudo, Formação, Didática e Trabalho docente, na qual existe o grupo de pesquisa Saber e prática social do educador, liderado pelo meu orientador, Prof. Dr. Jacques Therrien, onde estudo a docência universitária na pós-graduação em educação da UECE.

Esse foi seu primeiro envolvimento com pesquisa? Já tinha interesse anteriormente em desenvolver algo como isso?

Não. Minha primeira experiência com pesquisa foi na pós-graduação lato sensu na UECE. Na formação inicial não tive contato com a pesquisa. Fiz duas formações iniciais: bacharel em teologia e licenciatura plena em Pedagogia. Na primeira, aprendi a dinâmica do estudo e da leitura, interpretação e produção textual. Na segunda, como estudei em universidade particular, o curso estava mais voltado para o ensino e para concursos públicos. Foi no lato sensu que aprendi a pesquisar. Gostei tanto que entrei na rede municipal de ensino de Fortaleza, fiz mestrado e hoje faço doutorado em educação na mesma área que trabalhei na especialização.

3. Como foi o trabalho na prática? O que foi mais estimulante e também mais difícil?

A grande dificuldade da pesquisa é que nada está pronto. Tudo é uma construção. Requer do pesquisador flexibilidade para conseguir cercar seu objeto que, no início, não está claro. O objeto vai se mostrando ao pesquisador durante a caminhada da pesquisa. Gosto e capacidade de leitura, interpretação e produção textual são fundamentais para essa atividade. Essa não clareza inicial do objeto é que traz o estranhamento da pesquisa, causando instabilidade ao pesquisador. Contudo, esse caos inicial é fundamental para dialeticamente trazer ordem. O diálogo intersubjetivo das aulas a partir de leituras, dos grupos de pesquisa e o trabalho com o orientador são fundamentais nesse processo.

Você considera que o meio de trabalho no qual está inserido(a) estimula a prática de pesquisa? Caso não, quais são os maiores desafios?

Há seis anos que estou na rede municipal de ensino de Fortaleza. Na sala de aula o professor da educação básica não tem tempo de pesquisar. O foco é só ensino sem pesquisa. A educação básica não é o lócus da pesquisa. A formação inicial, geralmente, se o professor em formação estiver numa universidade pública, tem mais chances de pesquisar. Além disso, existe o fator financeiro. Pesquisa exige financiamento e tempo disponível. Sem condições materiais e instrumentos para produzir ciência, ir a eventos, apresentar trabalhos, não é possível fazer pesquisa. Infelizmente, a pesquisa é feita no bojo do sistema capitalista... Diante disso, o lugar da pesquisa, por excelência, é a pós-graduação stricto sensu: mestrado e doutorado. Dessa forma, esse ano de 2016, por conta que passei no doutorado e para facilitar minha liberação de estudos, há quase um ano fui chamado para trabalhar na formação de professores e coordenadores pedagógicos no Distrito de Educação 6 da Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza/CE. No meu trabalho, a cada quinze dias temos discussões em torno de leituras e temáticas que emergem da prática da equipe de formadores e técnicos educacionais. Eu sou responsável em mediar as vezes o grupo de estudos que está com uma pesquisa sobre a função do coordenador pedagógico na rede municipal de Fortaleza. Tem sido muito bom. O grande desafio é vencer o cotidiano pragmático que engole o nosso dia de trabalho. O caminho é o diálogo, a pesquisa e os grupos de estudo.

Qual a importância de estar envolvido numa pesquisa? A partir desse trabalho que integrou, no que a pesquisa pode contribuir para a melhoria da escola e para o entendimento do que se passa no dia a dia de professores, estudantes e funcionários?

Estar envolvido em pesquisa é mergulhar de fato no contexto do fenômeno educativo que é devir. Se a educação é um fenômeno em movimento, a pesquisa é uma tentativa de congelar esse devir para verificar uma amostra dentro de um universo maior como se dá uma realidade. Não é possível fazer um trabalho pedagógico relevante sem pesquisa. A literatura vem apontando desde os estudos de Donald Shõn a importância do professor reflexivo. Logo, é na práxis como movimento que articula a teoria e a prática que o trabalho da escola, da universidade e/ou qualquer contexto educacional pode caminhar para mudanças. Entretanto, segundo Vasquez, a dicotomia teoria-prática que supervaloriza a teoria, vem desde os gregos particionando a nossa realidade. Em outras palavras, de um lado temos uma universidade contemplativa teoricamente e uma escola voltada mais para o praticismo, sem um diálogo em torno da práxis pedagógica que possibilita a inovação e a mudança do contexto pedagógico. Uma série de fatores contribuem para o sucesso ou para o fracasso escolar pois a educação é um fenômeno complexo. Minha experiência em pesquisa na especialização, mestrado, doutorado, grupos de pesquisa, produção científica e trabalho com a formação de professores, tem me mostrado que o caminho para mudanças é o diálogo entre todos os segmentos da comunidade educativa e a pesquisa como postura investigativa da prática, para que nele seja recriada a teoria que a orientou. Isso é a práxis!