Entrevista - Roberto Sidnei Macedo (UFBA), coordenador do GT 12 (Currículo)

Confira a entrevista especial do Boletim Anped com o coordenador do GT 12 da Associação, o professor Roberto Sidnei Macedo (UFBA), que analisa a atuação do GT Currículo e sua articulação junto à Anped e à área da educação em âmbito nacional e internacional.

                                                                                                   Coord. Gt 12 Anped

Como você avalia o trabalho de aprofundamento na discussão sobre Currículo dentro do GT 12?

A produção de conhecimentos no campo do currículo e os debates formativos realizados sobre as questões desse campo no GT 12, se configuram em níveis de aprofundamento e alargamento significativos, levando em conta os temas curriculares, a diversidade teórica e as diversas demandas que surgem das expectativas sociais envolvendo propostas e práticas. Trazendo para si um considerável espectro de estudos, experiências e pesquisas vindos de todo o país, o Gt 12 se apresenta hoje como um espaço fulcral do pensamento curricular brasileiro, com significativas inserções internacionais, dada às relações que seus membros edificam tanto via relações com Grupos de pesquisa de países vizinhos, assim como com representantes de vários continentes. Diria que o espaço/tempo do GT 12 que se movimenta para além das Reuniões da ANPED, é atravessado de forma significativa pela diversidade do pensamento curricular nacional e mundial, proporcionando a quem o frequenta uma oportunidade impar para uma formação aprofundada levando em conta a densidade dos conhecimento que são ancorados nesse espaço acadêmico e científico. Um exemplo é que, atento às questões curriculares locais e nacionais o GT debate hoje com interesse (in)tenso a questão da internacionalização do currículo, levando em conta os desafios que os processos de globalização se lhes apresentam. Nesse sentido, o que se percebe é que seus membros estão conectados com a produção do conhecimento internacional e seus movimentos num esforço de participação, entendendo que nesse campo educacional como em outros, o (in)tenso movimento de debates é fundante para que o país não fique de fora da configuração mundializada do conhecimento eleito como formativo, cerne, ao nosso ver, da configuração central do currículo.

Como coordenador do Grupo de Trabalho, quais questões você avalia que devem avançar nesse processo?

Há no GT 12 uma expectativa bem vigilante, a de que devemos trabalhar o máximo para que a diversidade das práticas e do pensamento curricular brasileiro seja pleiteado no sentido de participar dos movimentos do GT, inclusive em níveis políticos, haja vista o movimento que o GT lidera junto com a Associação Brasileira de Currículo, a ABdC para se encetar um debate refinado sobre o movimento iniciado no MEC visando a proposição de uma Base Comum Curricular Nacional. Estamos mobilizando todos os Grupos de Pesquisa e instituições implicadas no sentido de abrirem essa discussão nos espaços e eventos que discutem a educação brasileira. Esse é um exemplo de como o GT e seus componentes não se fecham em questões acadêmicas e científicas. Entendendo que currículo é parte da concepção da educação como uma prática política e socialmente referenciada, esse é um exemplo emblemático da atuação do GT visando implicar não só aqueles que se aproximam da ANPED, na medida em que entende ser o currículo e sua importância social contemporânea uma questão da sociedade civil, portanto, de seus cidadãos e segmentos sociais.

Os Grupos de Trabalho têm papel central na estruturação das Reuniões Nacionais da ANPEd. Como funciona essa articulação e qual o balanço do último encontro, em Goiânia (2013)?

Avalio que a articulação entre a Diretoria da ANPED e o nosso GT tem sido célere e partilhada, em níveis de comunicação adequada e eticamente conduzida. Particularmente, nosso Gt tem estado atento às demandas da Direção da ANPED, bem como tem se postado como mais um protagonistas desta Associação Nacional, naquilo que contemporaneamente o currículo tem sido uma pauta educacional administrativa e politicamente sensível, haja vista o envolvimento que protagonizamos no que se refere a proposta do Ministério da Educação de conceber para a Educação Básica do nosso País uma Base Comum Nacional em termos de curriculares. Neste particular, o Gt vem se posicionando de forma significativa através dos seus membros, contra a criação de uma possível prescrição curricular com inspirações homogeneizantes, já que nos basta, levando em conta um país (in)tensamente heterogêneo, os esforços (alguns discutíveis, conforme uma vasta literatura produzida pelo campo aqui no Brasil) para lidar com nossa realidade educacional feitos pela LDB, pelos Parâmetros Curriculares Nacionais e pelas Diretrizes Curriculares em voga no nosso país. Ao lado da ABdC e interagindo com esta Associação, o GT realiza uma ação tentacular no sentido de se criar espaços-tempos de discussão mais ampliados sobre essa questão que, de alguma forma, produz alguma perplexidade e muito preocupação, em face de como vem sendo utilizado pelas políticas de currículo oficiais e vários países do mundo como um dispositivo de imposição e controle ideológico. Quanto às articulações do Gt com a Direção da ANPED na Reunião de Goiânia, avaliamos satisfatória em face da atuação extremamente atenta às sinalizações da Diretoria por parte do nosso Coordenador à época, o Professor Álvaro Hipólito e a nossa Vice-coordenadora a Professora Rita Frangella, bem como em função da comunicação ágil da Diretoria. Essa é uma disposição já construída por mim e pela Professora Maria Luiza Sussekind, responsáveis que somos pela atual Coordenação do Gt 12. 

Além das Reuniões Nacionais, como você vê a importância do Grupos de Trabalho, em especial do GT 12, para o amadurecimento de temas caros à educação brasileira? E qual a relação do GT Currículo com encontros nacionais e internacionais?

Como ressaltei anteriormente, temos no Gt pesquisadores com refinadas e densas relações nacionais e internacionais. Por exemplo, enfatizamos, que o tema da internacionalização do currículo é muito caro às nossas atuais discussões. Não como uma novidade a ser aplicada aos nossos contextos ou acolhida desse processo de globalização sem qualquer criticidade. O Gt implica-se nas ações e debates internacionais, atento a qualquer sobreimplicação ou ativismo colonialista, levando em conta os perigos que podem habitar uma visão colonizadora e/ou ingênua da internacionalização do currículo, até porque temos na carne e na nossa alma histórica a experiência da colonização educacional imposta e consentida dos anos dos governos do golpe militar de 1964. Podemos dizer que nesse particular temos uma mediação e uma atitude intercríticas. Vale ressaltar, o quanto nosso Gt se esmerou em discutir e pesquisar currículo pelo viés cultural a partir de uma perspectiva relacional, política e implicada a uma refinada sensibilidade às pautas do cotidiano, das redes e da inteligibilidade das culturas como criadoras de sentidos e de políticas de sentido de currículo e para o currículo.

Que sugestões de leituras você indicaria para alguém que queira se inteirar melhor sobre as discussões relacionadas ao tema Currículo?

ALVES, Nilda. (Orgs.) Criar currículo no cotidiano. Série cultura, memória e currículo. São Paulo: Cortez, 2002.
*Observamos a significativa importância de todos os números da Série Cultura, Memória e Currículo da Editora Cortez, onde estão presente vários pesquisadores do Gt de currículo.
ARROYO, Miguel. Currículo, território em disputa. Petrópolis: Vozes, 2011.
OLIVEIRA, Inês B. O currículo como criação cotidiana. São Paulo: DP et Alii, 2012.
CANEN, Ana; Moreira, Antonio F. (Orgs) Ênfases e omissões no currículo. São Paulo: Papirus, 2001.
CARVALHO, Janete M.; FERRAÇO, Carlos E. Currículos, pesquisas, conhecimentos e produção de subjetividades. São Paulo: Depetrus, 2013.
______________, Infância em territórios curriculares. São Paulo: DP&A, 2012.
CORAZZA, Sandra. Que quer um currículo? Pesquisas pós-críticas em educação. Petrópolis: Vozes, 2001.
COSTA, Marisa (Org.) O currículo nos limiares do contemporâneo. São Paulo: DP&A, 1999.
DOSSIÊS ESPECIAIS da ABdC - Associação Brasileira de Currículo na Revista TEIAS 2012 e 2013.
DOSSIÊ ESPECIAL da ABdC – Associação Brasileira de Currículo na Revista Currículo sem Fronteiras, 2013.
FERRAÇO, Carlos E. GABRIEL, Carmem, T. AMORIM, Antonio C. (Orgs.) Teóricos e o campo do Currículo. Campinas: FE/UNICAMP, 2012. (E.book Gt de Currículo ANPED).
_______________, (Orgs.) Políticas de currículo e escola. Campinas: FE/UNICAMP, 2012. (E.book Gt de Currículo ANPED)
HYPOLITO, Álvaro.; GONDIN, Luís. Educação em tempos de incertezas. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
LIBÂNEO, José Carlos; ALVES, Nilda (orgs). Temas de pedagogia - diálogos entre didática e currículo. S. Paulo: Cortez, 2012.
SANTOS, Lucíola; FAVACHO, André M. (Orgs.) Políticas e práticas curriculares: desafios contemporâneos. Sâo Paulo: CRV, 2012.
LOPES, Alice; MACEDO, Elizabeth. Teorias de currículo. São Paulo: Cortez, 2011.
LOPES, Alice; MACEDO, Elizabeth; ALVES, Maria P. Cultura e política de currículo. São Paulo: Junqueira & Marin, 2006.
MACEDO, Elizabeth; MACEDO, Roberto S. AMORIM, Antonio C. Discurso, texto, narrativa nas pesquisa em currículo. Campinas: FE/UNICAMP, 2009. (E.book Gt Currículo ANPED). Disponível em: http://www.posgrad.fae.unicamp.br/gtcurriculoanped/
publicacoes.html
MACEDO, Roberto S. Currículo: campo, conceito e pesquisa. Petrópolis: Vozes, 2011.
________________, Atos de currículo e autonomia pedagógica. Petrópolis: Vozes, 2013.
________________, Infâncias-devir e currículo: a afirmação do direito das crianças à (aprendizagem) formação. Ilhéus: EDITUS, 2013.
MOREIRA, Antonio F. Currículos e programas no Brasil. São Paulo: Papirus, 1990.
________________, Currículo: questões atuais. São Paulo: Papirus, 1997.
PARAÍSO, Marluce A.; VILELA, Rita A. SALES, Shirlei, R. Desafios contemporâneos sobre currículo e escola básica. São Paulo: CRV, 2012.
PEREIRA, Maria Z.; CARVALHO, Maria. E.; PORTO, Rita de C. (Orgs.) Globalização, interculturalidade e currículo na cena escolar. Campinas: Alínea, 2009.
PEREIRA, Maria Zuleide da Costa; PORTO, Rita de Cássia Cavalcanti; BARBOSA, Veridiana Xavier; ALMEIDA, Welita Gomes. (Orgs.) Diferença nas políticas de currículo. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2010.
SILVA, TOMAZ T. Documentos de identidade: uma introdução às teorias de currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.
SILVA, Tomaz T.; MOREIRA, Antonio F. (Orgs.) Territórios contestados: currículo e os novos mapas políticos. Petrópolis: Vozes, 1995.

Deixamos aqui também um espaço para você abordar algum outro assunto de relevância para o GT, caso considere importante.

Um outro assunto importante, que da nossa perspectiva deveríamos cotidianamente conquistar, seria um espaço/tempo de relações mais próximas e fecundas entregrupos de Trabalho da ANPED, fazendo com que as especificidades do Grupos de Trabalho trabalhem como transversalidades. Se entendemos que este é um âmbito de discussões que nos oferece possibilidades de atravessar fronteiras insondáveis e criar travessias para compreensões e intervenções educacionais pedagogicamente pertinentes e relevantes, social e culturalmente fecundas, nosso Gt, na nossa avaliação, precisaria de entretecimentos mais amplos nos próprios âmbito da ANPED, afinal, tratamos todos da mesma problemática, a educação brasileira, suas interfaces e problemáticas.