O mercado da educação | por Nelson Pretto (UFBA)

por Nelson Pretto (UFBA)

É impressionante o avanço do setor empresarial na esfera educacional. As últimas semanas foram cheias de movimentações a partir da compra da Somos pela Kroton, formalizada pela Saber, seu braço empresarial que se dedica à educação básica. Um movimento de R$4,5 bilhões, reforçando a consolidação dessas empresas de educação.

O curioso ao lermos as recentes noticias sobre educação, é ver analistas de mercado sendo os protagonistas das matérias. Quem diria que chegaríamos a isso: a educação sendo debatida publicamente por economistas e não por educadores!

Esse é, literalmente, um mercado que está se consolidando e tem que ser disputado, pois os números da educação básica são gigantescos, inclusive pelo esforço feito, desde FHC, para a sua universalização.

As escolas privadas começam a ter nomes sofisticados, com expressões que levam a pensar em sucesso. É o que eles chamam de segmento premium, abrigando os alunos das classes mais altas, que não suportam imaginar uma escola pública de qualidade onde seus filhos conviveriam com as diferenças sociais.

Por outro lado, ONGs associadas a grandes grupos empresariais passam a exercer enorme poder, influenciando de forma contundente a elaboração de politicas educacionais, como na definição da BNCC. A grande mídia não publica uma única matéria sem que os profissionais dessas ONGs não estejam dando o tom do discurso.

As empresas influenciam, assim, as políticas públicas com definições de ordem conceituais e, mais concretamente, com a elaboração e venda de materiais educacionais, entre os quais livros, sistemas, plataformas na internet e um conjunto de parafernálias para dirigir a educação pública de fora.

Ou seja, eles montam os sistemas, atendem as escolas das suas redes, e partem para atacar Secretários de Educação e Prefeitos, para que estes adquiram esses sistemas.

Pronto. A rede foi formada e a educação pública do país privatizada, se não no contrato social de gestão da escola (e isso vem por aí!), na prática cotidiana, transformando professores em meros repassadores de conteúdos produzidos nos grandes eixos, já que, para complementar, ou quem sabe, justo por isso, eles conseguiram construir uma base comum curricular que é um verdadeiro currículo mínimo.

Quando afirmamos que o golpe em 2016 havia sido só o começo não estávamos exagerando. Agora é possível acompanhar, passo a passo, mais etapas da sua concretização.

*Nelson Pretto (UFBA) é professor da Faculdade de Educação da UFBA. 

nelson@pretto.pro.br

*​Artigo originalmente publicado no jornal A Tarde (Salvador/BA), no dia 03 de maio de 2018.