Maria Malta Campos | Universidade Pública: democracia, diferença e resistência

Maria Malta Campos

Democracia, liberdade e o que, na época, chamávamos de justiça social, são temas que fazem parte da formação da minha geração, de uma maneira ou de outra. No meu caso, como aluna de pedagogia de uma faculdade católica, comecei a me familiarizar com essas discussões no grêmio estudantil, onde atuavam grupos da JUC – Juventude Universitária Católica. Muito próxima de nossa faculdade, os estudantes da chamada “Maria Antónia”, prédio localizado na rua de mesmo nome onde funcionava a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, organizavam-se em grupos inspirados por posições mais à esquerda, de base marxista. Essas influências se cruzavam e nos provocavam enquanto estudantes.

Os fatos são conhecidos: em 1964 o processo político foi truncado e começamos a viver os muitos anos de ditadura militar. Eu tinha 24 anos, dois filhos e um terceiro a caminho. Em 1967 comecei a trabalhar no Ginásio Estadual Pluricurricular Experimental, conhecido como GEPE. Lá pude conviver em um ambiente que se aproximava do que se entende por escola democrática, com todos os percalços e sobressaltos que essa experiência enfrentava naqueles anos. O Ato Institucional n. 5, um golpe dentro do golpe, acabou com essa e outras experiências pedagógicas marcantes que se desenvolviam na escola pública em São Paulo: o Ginásio Vocacional, a Escola de Aplicação da USP.

Como não valorizar a democracia e a liberdade tendo vivido dos 24 aos 44 anos em um regime que era a negação desses dois ideais? Vejo que hoje, para quem nasceu depois dessa época, resultados de muita luta, como a Constituição de 1988, parecem perder importância e legitimidade. No presente, após um período em que nosso país tentava ampliar e aprofundar essa democracia e essa liberdade, tudo parece se esvair rapidamente.

Parte importante de minha vida me ensinou que uma sociedade mais justa e igualitária não se constrói sem participação ampla de todos e todas e sem o direito de protestar e contestar.

Parabéns a ANPEd por nos abrir este espaço de expressão.

 

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