José Cláudio Rocha | UNEB | Coordenador


José Cláudio Rocha | UNEB
Projeto: Direitos Humanos, Cidadania e Violência: mediação de conflitos no ambiente escolar

 

Qual a importância, em todos os âmbitos, dessa articulação entre professores da educação básica e a pós-graduação?

Seguimos a diretriz do Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG 2011 a 2020), o Plano Nacional de Educação e o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH) que nos falam da importância da articulação da pós-graduação com a educação básica para elevar o nível da educação básica em todos os sentidos.

Como isso é feito, através da formação de professores da rede de educação básica em atividades de (in)formação de educação formal,  não formal e informal; auxiliando a comunidade escolar (protagonista de todo o processo) a pensar soluções para problemas educacionais, sociais e culturais no ambiente escolar; na produção de material didático e instrucional para atividades educacionais, principalmente, no campo da cidadania e dos direitos humanos. Difundindo as diretrizes do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos e das Diretrizes Nacionais de Educação em Direitos Humanos, bem como do Programa Nacional de Direitos Humanos em suas três versões. Orientando os professores da educação básica de como chegar na pós-graduação stricto-sensu, realizamos mesmo formações que vão desde como elaborar o currículo lattes até participar do Centro de Pesquisa.

Nosso Observatório consagrou-se no Estado pelo trabalho de produção e difusão de conhecimento para combate a violência no ambiente escolar e difusão da cidadania e dos direitos humanos da Educação de Jovens e Adultos até a Escola que funciona no Sistema Prisional em Teixeira de Freitas na Bahia, participando da qualificação de professores das licenciaturas indígenas, e discutindo com a comunidade em Camaçari formas de mediação dos conflitos a partir de uma Abordagem Baseada em Direitos Humanos (RBA).

Estamos na educação básica tradicional, mas também nos Centro de Educação Profissional como o caso do Centro Estadual de Educação Profissional em Artes e Design (CEEP Artes e Design) onde trabalhamos com os estudantes as oportunidades que existem no mundo da economia criativa.

Essa é, no entanto, uma via de mão dupla, ao prestarmos nossa colaboração a educação básica temos a oportunidade de formar recursos humanos (pesquisadores) como quer a CAPES, desenvolver projetos de pesquisa que atendem o compromisso social da universidade ou Responsabilidade Social Universitária (RSU) e gerar produção científica, tecnológica e técnica artística.

Neste trabalho desenvolvemos artigos científicos, livros e capítulos de livros, mas produzimos também planos para a educação, material didático, cartilhas, sistemas para a gestão da informação, marcas, música, documentários. Bastante variada a nossa produção, vale a pena dizer, que a articulação com a educação básica nos ajudou muito a produzir pesquisa aplicada como deve ser feito nos mestrados profissionais em educação. Em educação todos saem ganhando com essa parceria.

Como funciona na prática essa articulação? O que ela tem trazido de resultados?

Trabalhar como comunidades não é algo simples é preciso uma reflexão constante sobre os aspectos epistemológicos e metodológicos desse tipo de metodologia. Nesse sentido, buscamos em nossas reflexões apoio nas metodologias participativas, utilizamos a Pesquisa Ação como proposto pelo professor Michel Thiollent, Rene Barbier, Bernadete Gatti, entre outros. Trabalhamos também com a ideia de metodologias colaborativas na lição de Ibiapina onde os participantes da comunidade educacional são mais do que sujeitos no processo, são coprodutores do conhecimento. Seguimos também as tradições da pesquisa em direitos humanos, com o que chamamos de Abordagem Baseada em Direitos Humanos, isto representa ver os participantes como sujeitos e não objeto da pesquisa e que as restrições a serviços sociais básicos são em última análise violações aos direitos humanos e assim devem ser tratadas.

Temos ainda em nosso referencial teórico as referências da teoria/filosofia da libertação que nos articular a ideia de emancipação e empoderamento das comunidades e prestação de contas dos gestores públicos. Nesse sentido, nosso público alvo são tanto as comunidades como os gestores públicos, com as comunidades discutimos o seu empoderamento (empowerment) e com os gestores discutimos a prestação de contas a sociedade (accountability). Nesse tipo de pesquisa extensão é mais do que uma função da universidade é uma forma de se fazer pesquisa e ensino em articulação com a sociedade. Em nosso percurso metodológico, primeiro realizamos diagnósticos participativos com as comunidades, depois analisamos o problema e propomos uma solução que deve ser discutida e aprovada pela comunidade. Os projetos de pesquisa individuais (mestrado e doutorado) dos bolsistas seguem a mesma linha de orientação.

Mas temos um cuidado muito grande com o rigor científico de nossos projetos, além da pesquisa ação utilizamos o estudo de caso, a análise do discurso do sujeito coletivo (DSC), a pesquisa fundamentada, todos métodos de pesquisa que nos permitem conhecer melhor as realidades sociais com o fim de transformá-las, tendo como propósito a construção de uma cultura de respeito, promoção e defesa dos direitos humanos.

Trabalhamos de forma interdisciplinar pois os problemas são interdisciplinares, reunimos pedagogos, advogados, estatísticos, economistas, sociólogos, comunicadores, etc. na construção das soluções dos problemas. Produzimos com nossos projetos um ambiente propício a formação de professores e desenvolvimento de projetos e tecnologias sociais. O Observatório é integrado ao Centro de Pesquisa Desenvolvimento e Humanidade como Laboratório de Pesquisa aplicada em Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas, dessa forma ele interage com outros cinco laboratórios para dar ao estudante condições adequadas de desenvolver esse projeto. Abaixo segue noss matriz do Centro de Pesquisa.​

Qual a relação desse envolvimento com as metas do PNE?

Atuamos com base nos planos de educação como já foi dito, estamos articulados com as metas do PNE de:

- Melhoria da educação básica;
- Oferta de educação em tempo integral em no mínimo 50% das escolas;
- Formação continuada de professores da educação básica;
- Formação de professores da educação básica em pós-graduação stricto sensu.

Trabalhamos nas escolas difundindo esses planos, orientando a comunidade a utilizá-los na construção de suas propostas e planos.

O que representa a provável não continuidade dos editais do OBEDUC?

O Observatório goza de grande credibilidade junto a sociedade brasileira, a sua extinção significará o fim de bolsas para a pós-graduação mas, especialmente, para professores investigadores da educação básica, de recursos para manutenção das atividades e a realização de um grande número de atividades de formação para os professores. Da inserção de estudantes da educação básica em projetos de pesquisa elevando o nível de sua formação. O Observatório é um Centro Articulador de uma série de iniciativas e a sua extinção vai significar, no mínimo, a redução de um grande número de atividades. Se pudéssemos mandar um recado ao governo federal, falaríamos da importância do Observatório como articulador das ações com a educação básica, especialmente, no campo do combate a violência no ambiente escolar que se faz com diálogo, projetos e propostas e não com repressão aos estudantes e professores.