Entrevista com Nilda Alves (UERJ) | artigo RBE n.71 | "Formação de Docentes e Currículos para Além da Resistência"

A edição n.71 da Revista Brasileira de Educação (RBE) será publicada em três módulos em 2017 - a primeira parte estará disponível ainda neste mês de outubro na plataforma SciELO. Dentre os trabalhos presentes na edição, estará artigo de autoria da professora Nilda Alves (UERJ), intitulado "Formação de Docentes e Currículos para Além da Resistência". Confira entrevista com a autora:

Em seu artigo, a senhora recupera a atuação de movimentos e associações em prol de bases para formação de professores na década de 1980, a partir de encaminhamentos no Congresso Nacional. Qual a importância desse olhar histórico para se compreender proposições atuais, a exemplo da BNCC?

Precisamos ter em mente que a única forma de ir à frente é termos compreendidos os caminhos trilhados no passado: erros e acertos cometidos, ajudam a caminhar. Esta é a base do que chamamos "experiência". Por outro lado, creio que neste caso específico - o da formação de professores - compreender as tantas lutas que já tivemos ajuda a perceber que um certo desalento na atualidade já foi enfrentado de outras vezes. Mais ainda, nossas lutas marcam mesmo as decisões do grupo hegemônico em cada etapa. Por fim, analisar este percurso, de décadas, nos ajuda a perceber o quanto nas últimas diretrizes  do CNE - em resolução concretizada recentemente -  existem nossas marcas.

O artigo narra a experiência de mais de 10 anos de um curso de Pedagogia na cidade de Angra dos Reis implementado em parceria entre a Faculdade de Educação da UFF e a prefeitura local. De que forma tal projeto tratou da questão curricular para além do viés de disciplina? O que seria nesse contexto as ideias de "espaçostempos" e de formação "dentrofora" das escolas? Quais foram os frutos dessa experiência?

A resolução mais recente do CNE a que nos referimos acima possui incluída algumas das experiências vividas no curso: a ideia de pesquisa e prática percebidas como articuladas, criando mesmo um componente especial para isto, o hoje, já bastante conhecido PPP (Pesquisa e Prática Pedagógica); essa ideia mesmo de "componente curricular" - lá entendemos que os cursos possuem mais do que só disciplinas, ou seja, possuem ações e articulações de pensamentos e 'conhecimentossignificações' que vão além da compreensão do que é disciplina; a ideia de que as atividades culturais amplas e diversificadas são importantíssimas na formação dos docentes.
Qual a importância e como a formação de professores e a perspectiva curricular podem articular movimentos de resistência frente a agendas de retrocesso social conduzidas pela política nacional?
Já estão articulando fortemente: nossa frente de luta atual mais forte é o combate a esta forma em que se vem fazendo à BNCC, na qual não se considera a história já vivida em nosso país quer por experiência, quer por produção acadêmica acumulada, quer por decisões do CNE em torno de diretrizes, para atender a uma só forma de pensar educação - importada de experiência americana já falida e para beneficiar fundações privadas que desejam 'apostilar' a Educação brasileira, com fins próprios de obtenção de lucros, com o dinheiro público. Mas, o artigo destaca, principalmente, que nossa experiência permite afirmar que vamos sempre além da resistência. Entendemos que resistência se dá dentro de uma agenda das forças hegemônicas. Criar - próprio do ser humano - vai além da resistência pois se dá dentro de uma agenda própria das forças dos movimentos que vão se articulando em torno de experiências mais locais. O "Curso de Angra" nos mostrou esta possibilidade. E foi um capítulo do movimento encaminhado nacionalmente pela ANFOPE. Muitos outros exemplos poderiam ser dados. Em resumo: se existem, necessariamente, os movimentos de resistência contra o hegemônico que nos quer forçar a uma história única, existem, permanentemente, muitas outras história sendo vividas. 
 

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