Entrevista com candidatos à prefeitura | Carlos Osório

Carlos Osório
Candidato à prefeitura do Rio de Janeiro pelo PSDB


 

A qualidade da oferta de educação escolar é apontada como um problema em todo o país. Como avalia a qualidade da escola em seu município e quais as propostas um possível governo seu pretende desenvolver?
O Rio  de Janeiro até tem um bom resultado no Ideb, mas é preciso investir mais na infraestrutura das escolas, na formação continuada dos professores e em estratégias que aproximem as escolas das famílias e das comunidades. Hoje, a prefeitura do Rio tem tratado a educação como marketing político, construindo escolas gigantescas, sem ter professor em quantidade suficiente para colocar lá dentro. Vamos construir novas unidades? Claro que sim. Mas só isso não resolve o problema. Não inauguraremos escolas sem que tenham condições de atender plenamente às necessidades dos alunos, como tem acontecido com o projeto Escola do Amanhã que, para funcionar, acaba por canibalizar as outras unidades da rede. Não tem professor? Pega um daqui, outro dali para colocar na Escola do Amanhã. Independentemente de construir ou não novas unidades, trabalharemos incansavelmente na expansão do ensino integral, bem como investiremos firmemente em tecnologia, cultura e educação física para, além de qualificar ainda mais a rede, manter o aluno motivado, com vontade de frequentar a escola. Outra meta é implementar, gradativamente, o reforço escolar para os alunos que ficarem abaixo da média, ao fim de cada bimestre.

Os planos municipais de educação (PMEs) são instrumentos importantes na efetivação do direito à educação de qualidade de um município, visando a um período de dez anos. O seu município possui o PME aprovado? Se sim, quais são as metas estabelecidas e quais serão suas ações para concretizá-las?
Sim. Entre as várias ações previstas em nosso Plano de Governo (disponível em www.osorio45.com.br), no que diz respeito aos professores, investir em formação continuada, com as Coordenadorias Regionais de Educação (CREs) funcionando como unidades de qualificação e aperfeiçoamento pedagógicos para os profissionais; incentivar convênios com instituições educacionais e organizações não governamentais especializadas e fazer parcerias com universidades públicas e privadas para que o tempo investido em formação continuada conte para certificações e até mestrados são algumas de nossas propostas. Para os alunos, além de inserir a cultura e a arte como elementos essenciais para o desenvolvimento de competências pertinentes ao século XXI, iremos melhorar a infraestrutura das escolas já existentes, cobrindo as quadras de esportes, implantando bibliotecas, melhorando a tecnologia, a parte elétrica e a pintura, são as nossas prioridades entre muitas outras iniciativas previstas.

No Plano Nacional de Educação (PNE), um norteador das políticas educacionais, fica estabelecida a "superação das desigualdades nacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação". Como isso seria elaborado em sua gestão?
O Rio sempre foi vanguarda na promoção da igualdade de direitos e oportunidades, e não abrirei mão disso. Vamos criar uma área na prefeitura, ligada ao gabinete do prefeito, para dialogar com as comunidades e incentivar projetos de inclusão. Nossa meta é integrar as políticas sociais com as de Educação, Saúde, Cultura e Esporte. Desenvolver projetos para populações em risco social, com metas e indicadores definidos é outra de nossas prioridades. Para isso, é fundamental desaparelhar a Secretaria de Desenvolvimento Social de indicações políticas, valorizando o servidor público. No combate ao uso de drogas, vamos desenvolver campanhas e palestras, sobretudo, nas escolas. Além disso, teremos programas muito bem embasados pedagogicamente para combater o bullying e todas as formas de discriminação que acontecem diariamente dentro das escolas.

Um dos grandes desafios do PNE, que se relaciona diretamente às redes Municipais, é a expansão da educação infantil. Que proposta tem para esta questão?
A educação permite que exerçamos, talvez, uma das mais belas missões do poder público, que é a de dar oportunidades iguais a todos. O que falta mesmo são, sobretudo, creches e pré-escolas, o que prejudica as mães que precisam trabalhar e não têm com quem deixar os filhos. Temos, atualmente, 85 mil crianças fora destes segmentos. Para atender a esta demanda, iremos qualificar e expandir a rede de pré-escolas e de creches, com o auxílio de parcerias, para garantir ensino de qualidade a todas as crianças da cidade.  Quando um aluno chega ao ensino fundamental, após passar por uma boa creche da prefeitura, ele rende mais rapidamente do que aqueles que não tiveram acesso a este tipo de ensino, contribuindo decisivamente para a redução da evasão escolar. Não vamos permitir que percamos mais uma geração, no Rio, porque ela não teve oportunidade para frequentar uma creche ou uma pré-escola. Professores e educadores dos Espaços de Desenvovimento Infantil (EDIs) receberão uma formação mais intensiva para que os resultados sejam ainda melhores. É preciso ir além do lúdico e ter planejamentos com intencionalidade pedagógica.

Você acredita que a educação escolar pode promover a igualdade de gênero?
Promover reflexões e discussões relacionadas à igualdade de gêneros, a partir da escola pública, é essencial para que consigamos construir uma sociedade mais igualitária, justa e pacífica no Rio de Janeiro.

O candidato tem conhecimento da existência de um movimento chamado "Escola Sem Partido" e os Projetos de Lei que têm sido criados a partir do mesmo? Qual sua posição?
Entendo que há muita radicalização nesta discussão e que ela está contaminando esse debate. Creio que a educação não pode ser ideologizada e deve ser laica. A educação precisa oferecer condições para o desenvolvimento do senso crítico e da liberdade de pensamento dos nossos jovens. Os educadores devem oferecer diferentes perspectivas sobre os variados assuntos e estimular a reflexão crítica e o embasamento teórico para que cada um possa construir a sua própria visão de mundo ao invés de participar de discussões rasas e agressivas, que é o que vem acontecendo nas redes sociais.

Em seu programa de governo há propostas para promover a gestão democrática nas escolas públicas? Em caso afirmativo, que medidas pretende desenvolver?
Sim. Criaremos, com os educadores da rede, programas e ações para que as famílias e comunidades não só passem a fazer parte da rotina e da vida escolar, mas que, juntamente com os alunos, possam participar das decisões mais importantes da escola.

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da educação foi modificada pelas lei 10.639 e 11.645. Em 2003 foi estabelecido o ensino de história e cultura da África nas escolas públicas, e em 2008 foi acrescentado o ensino de história e cultura indígena. Como avalia a implementação dessas leis nas escolas de seu município? Há em seu programa proposta específica para desenvolvimento desses aspectos da LDB?
Atualmente, essa implementação é muito frágil – praticamente inexistente na maior parte das escolas. Em nosso programa, propomos fazer revisões importantes no currículo para que aspectos como estes possam ter uma implementação real, com impacto constatado na aprendizagem das crianças e jovens.

Um dos desafios para a educação brasileira é a valorização dos profissionais de educação. Qual sua avaliação sobre as condições de trabalho na rede de ensino de sua cidade? Sua proposta de gestão prevê o parcelamento PSPN aos professores?
A prefeitura estabeleceu uma guerra fria com os professores. Não existe diálogo. E sem professor motivado, com boa formação e infraestrutura adequada, não se pode sonhar com uma educação melhor. Para termos educação de qualidade, é necessário professores bem formados, motivados e bem remunerados. Vamos implantar a formação continuada do professor, por intermédio de parcerias com universidades públicas e privadas, e também rever o Plano de Cargos e Salários do magistério municipal. No caso dos docentes, é fundamental promover uma formação continuada de excelência, plano de carreira motivador e um bom ambiente de trabalho.