Entrevista com Jodete Bayer Gomes Fullgraf, Professora do Núcleo de Desenvolvimento Infantil da Universidade Federal de Santa Catarina (Aposentada). Esta entrevista integra reportagem especial da ANPEd sobre a Educação Infantil.
Qual a importância de creches universitárias?
As creches universitárias cumprem um importante papel dentro das universidades. Esse importante papel tanto está relacionado com as atividades de ensino vinculadas ao atendimento às crianças, quanto ao caráter acadêmico que deve fazer parte de suas funções, tanto, social, política, quanto pedagógica. Assim evidenciamos que essas unidades devem se constituir em campo de estudo e estágio sobre a educação privilegiando os diversos cursos de graduação, pós-graduação, estágios, entre outros. Com relação as questões pedagógicas essas, ao longo do tempo, pautaram-se em diferentes concepções de educação, educação infantil. infância, criança, assim as creches universitárias sistematizaram seu trabalho com diferentes perspectivas pedagógicas. Tais variações caracterizam-se em distintos momentos históricos do atendimento á criança em creches e pré-escolas. Desse modo, em todo território brasileiro, como também no Núcleo de Desenvolvimento Infantil, novas perspectivas teóricas foram subsidiando o trabalho pedagógico na educação infantil.
Mais especificamente no Núcleo de Desenvolvimento Infantil da UFSC, nesse processo, sobretudo a partir de década de 90, as demandas da área impulsionaram os profissionais das creches universitárias e diversas unidades de educação infantil para além do ensino, por meio do envolvimento também com a pesquisa e extensão, tomando como seus os objetivos da Universidade (Proposta Curricular do NDI, 2014).
Consideramos que esse processo se repete nas demais creches e unidades universitárias, consolidando assim um conjunto de instituições que muito se aproximam em seus objetivos e funções com as funções universitárias.
Além disso, ao mesmo tempo em que se constitui num espaço acadêmico atende também os filhos das comunidade em qual estão inseridas, seja comunidade universitária, seja a comunidade em geral. No entanto muitas unidades se constituíram de modo que as condições impostas à sua estrutura e funcionamento não possibilitaram a constituição de um caráter acadêmico, dentre as suas funções, privilegiando apenas o atendimento às crianças. Essa trajetória, forçou em algumas situações, que algumas unidades universitárias, trilhassem uma trajetória a margem da estrutura universitária, o que consideramos um equívoco.
Como esses programas se estruturam em termos de financiamento e gestão?
Nesse aspecto indicamos que pelo que temos acompanhando os programas das creches universitárias se estruturaram de modo extremamente diversificado, tanto nas questões relacionadas aos aspectos de financiamento quanto gestão, assim como pedagógico. Em muitas universidades existem vários serviços de atendimento às crianças de 0 a 6 anos (Raupp, 2009) e se constituíram e se caracterizaram de forma diferenciada.
Muitas unidades, que por diversos aspectos, não trilharam essa referida trajetória "universitária¨, não podem e não devem ficar a margem da gestão das universidades, portanto é fundamental que suas ações estejam regulamentadas e aprovadas no contexto universitário.
Destacamos que muitas creches universitárias tem se configurado, na sua trajetória, não só pela participação na formação de recursos humanos para educação infantil e áreas afins, mas também como espaço de experimentação pedagógica para diversos cursos das universidades. Desta forma, muitas creches universitárias tem (e precisam) articular seu redirecionamento na estrutura universitária, buscando autonomia pedagógica, política, administrativa e financeira, bem como uma participação mais efetiva nos programas de ensino, pesquisa e extensão das universidade nas quais estão inseridas. Salientamos que as creches universitárias, tem buscado consolidar o entendimento de que uma instituição pública somente se justifica se for capaz de responder as demandas e desafios colocados para educação pública no país.
Quais são os maiores desafios que creches universitárias enfrentam?
Um dos maiores desafios é legitimar o entendimento que essas unidade são fundamentais e que articulam o ensino, a pesquisa e a extensão no contexto universitário. Muitas vezes esse esforço precisa ser empreendido no interior da própria comunidade universitária. Para garantir esse aspecto, assim como a permanência dessas unidades, tanto é preciso regulamentação no âmbito do MEC, como da própria Universidades para que os programas de educação infantil continuem se efetivando e não passem por fragilidades com relação a sua vinculação.
Para dar sustentação a essas demandas, é preciso que os professores e diversos profissionais que atuam nas creches universitárias acompanhem as discussões relacionadas a infância.
Qual a importância da articulação entre ensino, pesquisa e extensão na produção de conhecimentos no campo da Educação Infantil?
Considero que essa articulação é condição sine qual non para o fortalecimento e permanência das creches universitárias no contexto da universidade.
Historicamente muitas creches universitárias conquistaram representações acadêmicas e políticas no interior de suas universidades. Seja em conselho departamental, conselho universitário, seja nas associações dos professores e servidores, seja em colegiados do curso de Pedagogia, fórum das licenciaturas, assim como no conselho de diretores dos colégios de aplicação das universidades federais/CONDICAP e na associação nacional das unidades universitárias de educação infantil/ANUUFEI. A participação das unidades e ou creches nessas diversas instância fortalecem o status "oficial" dessas unidades. Além dessas instâncias muitas unidades participação do Fóruns estaduais de educação infantil e integram o MIEIB.
O Núcleo de Desenvolvimento Infantil da UFSC, por exemplo, instituição a qual atuei durante 30 anos, indica em sua página oficial que "Atuando na educação de crianças na faixa etária de 0 a 5 anos e 11 meses, consolida-se também como um espaço privilegiado de pesquisa e extensão no campo da educação infantil. O NDI tornou-se ao longo dos anos um Centro de Referência nesta área. A indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão que lhe é inerente, vem permitindo produzir e socializar importantes conhecimentos sobre a educação das crianças menores de 6 anos. Considera-se que projetos pedagógicos inovadores para a educação infantil, que são baseados em estudos e pesquisas e ao mesmo tempo as alimentam retroagindo sobre elas, justificam a razão de existir da educação básica no interior de uma universidade, agregando qualidade para a UFSC" (http://ndi.ufsc.br/apresentacao/).
A origem das creches universitárias surge de uma demanda de mulheres que buscam um local seguro para deixar seus filhos, como isso reflete na organização pedagógica e didática desses ambientes?
Muitas dessas unidades surgem a partir desse contexto e dessa demanda, qual seja, um local para os filhos permanecerem. Essa demanda era legítima na década de 80 e ainda é.
O importante é que a principal função social das unidades universitárias de educação infantil, além de atender às crianças com programas pedagógicos qualificados, é produzir e socializar conhecimento sobre a criança e a infância.
Destacamos então "considera-se que projetos pedagógicos inovadores para a educação infantil, que são baseados em estudos e pesquisas e ao mesmo tempo as alimentam retroagindo sobre elas, justificam a razão de existir da educação básica no interior de uma universidade, agregando qualidade para a UFSC (NDI/UFSC).
Para Raupp (2002) "percebe-se então que os contornos de criação do NDI refletem marcas durante seu processo de instalação: a reivindicação de creche por mães da comunidade universitária, o discurso oficial do reitor, que indica a creche como um benefício do empregador e a indicação da necessidade do curso de Pedagogia habilitação educação pré-escolar em dispor de mais um campo de estágios, observações e pesquisas (p, 4).
Bibilografia
FULLGRAF, J. Núcleo de Desenvolvimento Infantil - UFSC: A Educação Infantil e a Infância de Direitos. ANAIS, Foplis , 2012.
RAUPP, M. Apresentação do NDI, 2002, UFSC. Consultar em (http://ndi.ufsc.br/apresentacao/).