Confira entrevista com o editor da RBE, Antonio Amorim (UNICAMP), e conheça as mudanças pelas quais a publicação passará a partir de julho

A Revista Brasileira de Educação (RBE), vinculada à ANPEd, circulou seu primeiro número em 1995. Nestes mais de 20 anos, consolidou-se como uma das mais importantes publicações acadêmicas da área - qualidade que também se reflete no alcance de seus artigos, estando entre as 10 revistas mais citadas das Ciências Humanas e Sociais na plataforma Scielo. Entre artigos, resenhas, entrevistas e documentos recebidos em fluxo contínuo, são publicados em média 48 textos por volume/ano - média de 12 para cada edição trimestral no formato atual, com tiragem de três mil exemplares por número. Desde 2015 (jul.–set. n.62), a RBE também publica artigos em versão bilíngue seguindo a dinâmica do processo de internacionalização dos periódicos brasileiros, com o objetivo de ampliar a visibilidade de textos de autores nacionais e de temas relevantes e atuais.

Acesse a seção da RBE no portal da ANPEd.

E para se adequar às mudanças atuais de maior impacto nos periódicos, a RBE passará por inovações no processo de publicação e divulgação do material da revista. A ideia é que a partir de 2018 a revista deixe de ter a edição impressa, estando disponível apenas em meio virtual, seguindo com conteúdo aberto e gratuito.

Já ao longo do segundo semestre de 2017 ocorrerá uma transição nesse processo. A edição n. 70 (julho - setembro) será publicada no formato de um volume único, não mais impresso. Por sua vez, o número 71 será publicado em três diferentes momentos, outubro, novembro e dezembro - em cada um desses meses serão publicados 12 artigos, fechando o ano com 40% a mais de artigos aprovados em comparação aos anos anteriores. A partir de 2018, a cada mês será publicado um conjunto de artigos, mantendo a previsão de ampliação de 40% do número de textos circulados. Neste formato, não haverá mais número da revista e, sim, um volume único que será fechado ao final do ano.

A previsão é, já entre 2018 e 2019, que haja uma diminuição drástica do tempo entre a aprovação de um artigo e a sua publicação online, um dos principais gargalos para as revistas acadêmicas de modo geral. Diversos outros ganhos poderão ser percebidos a partir disso, como a maior atualidade das pesquisas publicadas, menos gastos de imprensa e adequação a questões ambientais pela valorização do meio virtual. "Com a produção digital avulsa e a maior agilidade na publicação dos artigos aprovados, espera-se que aumente o interesse de grupos de pesquisadores nacionais e estrangeiros pela RBE e, mais do que isso, que resultados de pesquisa, ensaios teóricos, revisões bibliográficas e trabalhos empíricos que tratem de temas atuais e/ou de interesse contemporâneo possam ser publicados por demanda espontânea ou induzida", afirma Antônio Amorim (UNICAMP), editor da RBE. Confira entrevista na qual Amorim explica como estas novas concepções já vêm sendo gestadas há alguns anos, quais são os valores envolvidos e qual será o alcance destas mudanças, dentre outras ideias em debate atualmente.

Antonio Amorim (UNICAMP) - editor da RBE. Foto: Camilla Shaw/ANPEd

 

Portal ANPEd - A partir das edições de n. 70 (julho-setembro) e 71 (outubro-dezembro) a RBE passa por um momento de transição entre uma edição tradicional, impressa, e um novo modelo unicamente em meio virtual. Como se dará esse processo?

Antonio Amorim (editor da RBE) - Primeiramente, é importante destacar que as remodelações editoriais pelas quais passará a RBE fazem partem de um processo que vem sendo construído ao longo dos últimos, no mínimo, seis anos. Fruto de trabalho dedicado da Comissão Editorial da revista, juntamente com as Diretorias da ANPEd, nos últimos anos vimos a realização da publicação bilíngue de alguns artigos; a diminuição do prazo entre submissão, avaliação e publicação dos artigos;  a opção e afirmação política pelo acesso aberto para sua divulgação e publicização; a discussão e o aprimoramento constantes do Escopo da Revista e de sua inserção local, nacional e internacional, bem como a da responsabilidade social da disseminação de conhecimentos e processos de pesquisa de alta qualidade.

Nesse contexto, um dos aspectos que merecem atenção especial é o tempo de publicação na RBE de um artigo desde a sua aprovação, após avaliação por pares. Diante da relevância do periódico no cenário nacional e sua crescente entrada no cenário internacional das publicações especializadas, não é mais possível que esse tempo permaneça tão longo. A edição da revista, em formato brochura e impresso, por várias razões, é um entrave para essa maior agilidade da publicação dos artigos. Diminuir a periodicidade da publicação, mantendo-se o formato atual, além de encarecer sobremaneira o orçamento escasso da revista (que depende de financiamento de agências de fomento nacionais e de parcela das anuidades dos associados da ANPEd), também não nos permitiria colocar à disposição dos leitores um artigo que foi aprovado sem ter que esperar o fechamento de um volume com temática afim e respeitando toda uma lógica da publicação de um número específico da revista. Sendo assim, a publicação avulsa digital apresenta-se como uma alternativa excelente e sobre a qual já há experiência acumulada nos periódicos científicos, inclusive da área das humanidades e ciências sociais.

Antes, porém, de iniciarmos a publicação avulsa digital, a comissão editorial da RBE optou por uma transição entre os dois modelos neste semestre. Para 2018, a proposta é que, a cada mês, publiquemos um conjunto de artigos, mantendo a previsão de ampliação de 40% do número de textos a serem publicados. Não haverá mais número da revista e, sim, um volume único que será fechado no final do ano. Entre 2018 e 2019 - a previsão é que haja uma diminuição drástica do tempo entre a aprovação de um artigo e a sua publicação online.

Como essas mudanças se alinham com tendências editoriais em nível nacional e global? A produção e difusão de conteúdo ganha uma dinâmica mais adequada à realidade atual com tal adaptação?

Com a produção digital avulsa e a maior agilidade na publicação dos artigos aprovados, espera-se que aumente o interesse de grupos de pesquisadores nacionais e estrangeiros pela RBE e, mais do que isso, que resultados de pesquisa, ensaios teóricos, revisões bibliográficas e trabalhos empíricos que tratem de temas atuais e/ou de interesse contemporâneo possam ser publicados por demanda espontânea ou induzida. Há várias discussões a respeito da maior e mais veloz circulação dos conhecimentos na comunidade acadêmica, inclusive algumas muito críticas e que nos fazem atentar a essa nova opção editorial da RBE. O acompanhamento e avaliação constantes dos efeitos desse outro formato de publicação e as implicações para a garantia e ampliação da qualidade dos trabalhos publicados são, certamente, temas de agenda do trabalho da Comissão Editorial da RBE nestes próximos anos. As tendências, especialmente internacionais, vêm destacando a publicação digital avulsa como uma boa oportunidade para consolidar e diferenciar o escopo e a missão de periódicos que vêm construindo, historicamente, impactos nas suas áreas de referência.

É possível pensar em outros ganhos com tal mudança, tanto para associados quanto de forma geral?

Uma de nossas expectativas é que os associados da ANPEd poderão voltar a se interessar em publicar os seus artigos apresentados nas reuniões nacionais da associação, especialmente  após as discussões e debates ocorridos no congresso. Além dessa atualidade das pesquisas que circulam pelos diferentes campos de estudo da área da Educação no Brasil, a publicação de artigos, de variados temas, perspectivas teórico-metodológicas e formas de análise/interpretação, em um conjunto diverso mês a mês, auxiliará aquelas/aqueles que estão envolvidos no dia-a-dia de suas pesquisas, favorecendo a leitura, discussão e citação dos textos, e estimulando que sejam submetidos outros artigos, com outras ênfases ou em diferentes perspectivas, estabelecendo-se uma comunidade de diálogo mais intensificado que poderá ter, na RBE, uma de suas visibilidades.

Como a RBE tem pensado e buscado ações de diálogo com diferentes públicos (associados, leitores, professores)? Existem novas ideias que podem ser implementadas em breve?

Um dos grandes interesses da Comissão Editorial da RBE é criar espaços de conversações com associados, leitores, professores, estudantes e público em geral. Para isso, a publicação de artigos científico-acadêmicos não é suficiente. Desde a gestão do Prof. Carlos Eduardo Vieira à frente da Editoria da RBE, foi implementada a dinâmica de entrevistar dois autores de textos a cada número publicado da revista. Essa ação confere bastante visibilidade aos artigos, à revista e às conexões entre o tema da publicação e os contextos mais amplos. Essa ação, feita pela equipe de comunicação da ANPEd, certamente merece ser continuada, ampliando-se para a divulgação de vídeos sobre os modos de produção de algumas pesquisas às quais os artigos se referem; gravações em áudio com leitores dos artigos, levantando seus comentários e interpretações; produção de materiais em multilinguagens sobre os principais aspectos que vêm sendo destacados pelos artigos dentro de temas de interesse mais amplo da sociedade, particularmente se conseguirmos publicar artigos que discutam acontecimentos recentes e/ou contribuam para que analisemos as condições dos tempos presentes, a partir de lentes históricas, sociológicas, filosóficas, estéticas, artísticas, pedagógicas e das experiências.

Qual o papel exercido pela RBE no âmbito da pesquisa em pós-graduação em Educação?

Uma das dez mais acessadas revistas da área de Ciências Humanas e Sociais dentro da Biblioteca SciELO, a RBE vem, desde o seu número zero, publicado em set./dez. 1995, ampliando seu espectro de influência nas redes de produção de conhecimento científico em Educação, bem como sendo fonte bibliográfica relevante para  a formação de pesquisadores e professores. Sua vinculação à Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd) acresce ao seu escopo a discussão política e crítica de alta qualidade, somando ao seu papel geral como publicação de impacto da área o fato vir sendo significada como lugar privilegiado para a consulta de referências acadêmicas para a elaboração de políticas públicas ligadas à formação de professores e à pós-graduação, constituindo-se em um privilegiado espaço de circulação, divulgação, debate e propulsão de novas abordagens, de temas de interesse destacável quer seja por sua emergência, quer seja por uma interpretação atual de suas tradições, representando um retrato importante do que vem sendo produzido no campo de pesquisa em Educação.

De acordo com o relatório de atividades da RBE, organizado pelo Editor à época, Carlos Eduardo Vieira, “a RBE é o periódico publicado pela mais importante associação da área da Educação no Brasil e, sendo assim, se caracteriza como um veículo privilegiado para divulgação das pesquisas dos grupos de trabalho que integram a entidade. Para além do contexto nacional, a RBE passou a ser uma referência para a América Latina e para a península Ibérica. Essa condição pode ser verificada pela submissão regular, via demanda espontânea, de artigos oriundos dos países dessas regiões. A seleção de artigos para publicação toma como critérios básicos sua contribuição à educação e à linha editorial da Revista, a originalidade do tema ou do tratamento dado ao mesmo, assim como a consistência e o rigor da abordagem teórico-metodológica”.